É em Albino (Pedro Lacerda), à esquerda,
que se concentram vacilações
quanto à valentia,
à sexualidade e à honra conjugal
RTP - in Expresso | Revista E | 6 JUN 2020 | TEXTO de Jorge Leitão Ramosque se concentram vacilações
quanto à valentia,
à sexualidade e à honra conjugal
AINDA mais este excerto:
«Entre a saga marítima de um lugre bacalhoeiro e as agruras que ficam em terra decorre “Terra Nova”, série que esta semana começou caminho na RTP 1. É um raro e ambicioso projeto de ficção portuguesa
TEXTO JORGE LEITÃO RAMOS
Na base está o propósito de Nicolau Breyner de adaptar ao cinema uma peça teatral de Bernardo Santareno, “O Lugre”. Depois, à medida que a ideia foi tomando corpo num argumento de Artur Ribeiro que Breyner não chegou a poder ter em mãos porque, em 2016, a morte o levou em pleno processo de financiamento, começou a germinar o objetivo de uma série de televisão. “O Lugre” que Santareno publicou em 1959, estreando a peça na Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, então concessionária do Teatro D. Maria II, decorre inteiramente a bordo de um grande navio de pesca do bacalhau, em faina nas águas da Terra Nova. Foi um texto nascido da experiência pessoal do dramaturgo enquanto médico nessas andanças longínquas e figura uma tragédia humana num habitat exclusivamente masculino onde violência e particulares códigos de honra intransigentemente se praticam.A ideia de produção que tomou forma na Cinemate, de Ana Costa, foi a de fazer um filme que, inspirado na peça, lhe fosse relativamente fiel quanto ao espaço, personagens e conflito e de construir uma série de televisão que abrisse o mundo do mar às famílias que ficam em terra, franqueando a realidade social. “A ligação dos que embarcavam com os que ficavam em terra era muito forte e, muitas vezes, o que se passava no mar tinha tido início em terra”, explica a produtora que esteve na raiz deste empreendimento. Percebeu-se que seria interessante “falar do que eles deixam, porque, na realidade, não deixam, levam consigo para o mar”. Assim se fez.
O filme, realizado por Artur Ribeiro, tinha estreia marcada para 19 de março — abalroada pela pandemia da covid-19 que fechou as salas de cinema. Uma nova data ainda não foi avançada pela NOS, que o distribui. A série, composta por 13 episódios de 40 minutos, aproximadamente, e assinada por Joaquim Leitão, começou a ser emitida esta semana (quarta-feira, pelas 21h) na RTP 1.
A primeira coisa que impressiona neste projeto biface é o intento ambicioso em termos de produção. Há oceano de verdade, horizontes, tempestades, um vasto elenco. Tudo o que decorre no mar foi rodado a bordo de um grande veleiro — o “Santa Maria Manuela” — ao largo da Noruega e, para uma breve zona (“o dormitório do capitão, a zona dos oficiais”), noutro veleiro, o “Creoula”, em Portugal. “O material técnico, o guarda-roupa e os adereços foram enviados para a Holanda, onde foram embarcados no “Santa Maria Manuela”, nós resolvemos ir de avião porque senão demoraríamos um mês a lá chegar, o veleiro é muito lento. Embarcámos em Tromsø, na Noruega, fomos até lá acima à ponta e depois começámos a descer e desembarcámos na Holanda. As condições em que filmámos não foram normais, vivíamos no barco, a equipa inteira e os atores, dormíamos em camaratas, comíamos todos juntos, não foi fácil”, não havia as comodidades de um hotel. (...)».
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