sábado, 13 de novembro de 2021

TEATRO NACIONAL S.JOÃO | Já estreou «O Pecado de João Agonia»

 


Veja aqui


«Com O Pecado de João Agonia prosseguimos a operação de resgate das palavras de Bernardo Santareno iniciada com a produção de A Promessa, em 2017. Fazemos justiça à voz de um dos mais importantes dramaturgos portugueses do século XX, ao mesmo tempo que investimos na revivificação da memória de um clássico contemporâneo. Como denominador comum aos dois projetos encontramos o encenador João Cardoso, diretor artístico da ASSéDIO, companhia com quem partilhamos nova incursão no território de um dramaturgo que praticou uma “poética de raízes”. O Pecado de João Agonia (1961) inscreve-se num conjunto de peças onde Santareno afirma uma estratégia de oposição a um sistema opressivo, problematizando aspetos de natureza sexual (a homossexualidade) e questões de natureza religiosa (o pecado, o sacrifício). Este incitamento a uma espécie de “desobediência dos dogmas” é aqui vivido no interior de um apertado círculo comunitário – um “lugarejo serrano e primitivo”, o Portugal salazarento, país que ainda é o nosso. Lugar onde o “vento queima” e o céu se enche de pássaros pretos na noite do crime. “Não vás, João Agonia! Foge, foge!”».



sexta-feira, 6 de agosto de 2021

HÁ 1 ANO QUE FERNANDA LAPA NOS DEIXOU | assinalemos a saudade com o «Lugre» que tanto desejou fazer ...

 

"Violência, medo e morte são as linhas fundamentais de um texto magnífico
ALÍPIO PADILHA | Recorte do trabalho do Expresso - «DO FUNDO DOS MARES» - de João Carneiro


Revista «E» do semanário Expresso de 30 JUL 2021


Outro excerto: «(...)O livro é admirável. A passagem referida, deixando de fora muitos aspetos daquela extraordinária experiência, é eloquente, contudo, a vários títulos. Remete-nos, de imediato, para dois lados de uma realidade, a superfície e aquilo que está para além da superfície; remete-nos para a aparência e para aquilo que nem sempre é aparente. Remete-nos para a dupla, ou melhor, a múltipla realidade das coisas. Naquela passagem, figura um elemento crucial para aquilo que aqui nos interessa, a Morte, o grande assunto da vida, o maior mistério da existência. Figura o mar, outro elemento crucial. A passagem é, ainda, e apesar da sua brevidade, exemplo da capacidade descritiva do escritor, e da sua mestria no domínio da linguagem.

“O Lugre”, a peça de teatro, estreou-se em 1959, no Teatro Nacional D. Maria II, com encenação de Pedro Lemos, cenário de Lucien Donat e Jorge Brandeiro, inaugurando a temporada de 1959/60; era o tempo da Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro. E era o ano em que foi publicado “Nos Mares do Fim do Mundo”. Muitas das cenas da peça parecem vir diretamente das memórias, tal como Santareno as escreveu. “O Lugre” é, contudo, um monumento dramático-teatral infinitamente mais violento. Lá estão algumas descrições extraordinárias, nomeadamente sobre sonhos e sobre o fundo do mar; lá está um lirismo intenso; lá estão, também, paixões em conflitos extraordinariamente violentos. E lá estão, também, omnipresentes, a morte e o mar. E o medo. Aliás, violência, medo e morte são, eventualmente, as linhas fundamentais desta peça, que é um texto magnífico, mesmo que só à leitura, e na qual o mar funciona não apenas como referência direta, mas também como elemento simbólico, que envolve e corporiza as linhas temáticas fundamentais do drama — ou da tragédia. Como escreveu Urbano Tavares Rodrigues, à data da estreia, os homens de “O Lugre” (não há mulheres) são “bárbaros, supersticiosos e simples como crianças ou como feras”; a linguagem é “certa, popular, exata, colorida, brutal e docemente castiça”. Seria difícil dizer melhor, com maior precisão e exatidão. Fernanda Lapa (1943-2020), atriz, encenadora e cofundadora da Escola de Mulheres — Oficina de Teatro, que conheceu Bernardo Santareno e por ele nutria grande admiração e amizade, fez o convite ao Teatro da Terra e a Maria João Luís para encenarem uma peça daquele autor, assinalando, em 2020, o centenário do seu nascimento. A morte (mais uma vez) não permitiu que Fernanda Lapa visse concretizado o seu desejo; mas a escolha recaiu sobre “O Lugre”, e depois dos atrasos que a vida, um pouco por todo o mundo, sofreu com a pandemia que teima em não desaparecer, o espetáculo aqui está, para um curto número de representações. (...)».

sexta-feira, 23 de julho de 2021

NO SEIXAL | «O Lugre» | PELO TEATRO DA TERRA

 


Saiba Mais


Sinopse

«O Teatro da Terra apresenta ao público «O Lugre», peça escrita em 1959 por Bernardo Santareno, com uma minuciosa encenação de Maria João Luís, obra que contraria a visão pacífica e oficial das condições de trabalho e da pesca do bacalhau, divulgada pela ditadura.

A pesca do bacalhau, praticada com regularidade a partir do século XV no Atlântico Noroeste até aos nossos dias, legou-nos uma herança cultural que inclui, não só um conjunto de artefactos materiais que testemunham as longas viagens e duras jornadas de trabalho, como também um património diverso de registos cinematográficos e obras literárias. Uma aventura humana tão épica como dramática, ainda possível de conhecer diretamente da boca daqueles que a viveram.

Embarcado no navio-hospital Gil Eanes, e também nos arrastões Senhora do Mar e David Melgueiro, Bernardo Santareno (pseudónimo de António Martinho do Rosário) trabalhou como médico na frota bacalhoeira portuguesa na Terra Nova. Dessa experiência e dos testemunhos e histórias dos marinheiros que desse modo conheceu resultou este drama, conhecedor da vida árdua dos pescadores portugueses dos mares do Norte, mas também dos conflitos próprios à vida dos embarcadiços e dos modos diversos como cada um à sua maneira e todos em conjunto encaravam os perigos. 

Nesta história, o homem é obrigado a confrontar a natureza e, ao fazê-lo, vê-se perante si mesmo e em oposição a outros homens. Um regresso do Teatro da Terra à obra de Bernardo Santareno, num trabalho que mais uma vez evidencia o poder das palavras do dramaturgo, com um texto que dá a conhecer a vida dura de quem a arrisca quotidianamente e as diferentes reações humanas perante as adversidades».